segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Para que não volte a acontecer!

Quando, em 1498, a rainha D. Leonor decidiu fundar as misericórdias tinha como principal objetivo prestar auxílio à população mais necessitada, como os doentes ou os órfãos. 
Isto foi em 1498, porque atualmente a rainha deve estar às voltas no túmulo, uma vez que se perdeu o grande objetivo das misericórdias, se perdeu ou foi desvirtuado pela ganância, pela vaidade ou pela arrogância.
Sempre olhei para as misericórdias atuais com alguma desconfiança, claro que nem todas são más, há muitas que têm bons provedores e são bem geridas, tendo como único objetivo ajudar o próximo necessitado, nomeadamente os idosos e as pessoas com deficiências.
Para todas as que funcionam bem, deixo aqui o meu aplauso e votos que assim possam continuar, mas hoje vou falar das que não funcionam bem, sobretudo da Santa Casa da Misericórdia das Alcáçovas.
Sempre se falou, por fora, de certas irregularidades, contratos e concursos menos claros, sempre se falou de falta de assistência aos idosos, sempre se falou de falta de vontade ou jeito de alguns funcionários, sempre se falou de várias coisas que não funcionavam muito bem, é certo que sempre se falou, mas nunca se fez nada!
Hoje venho aqui partilhar com vocês o que se passou com a minha avó, utente interna da Santa Casa da Misericórdia das Alcáçovas.
No passado dia 12 de Setembro de 2011, a minha avó Luísa Fava, levantou-se doente e foi colocada na sala habitual, como era hábito, no entanto ela não estava no seu estado normal, e na hora de almoço só comeu porque uma colega lhe deu alguma comida na boca. As funcionárias foram alertadas pelas idosas, e levaram a minha avó para outra sala, onde a sentaram, sem qualquer tipo de assistência ou tratamento. A minha avó esteve naquela cadeira, doente, até à hora da visita, cerca das 15 horas, quando a minha mãe a foi visitar e a viu naquele estado. De imediato a minha mãe chamou uma ambulância e levou-a de urgência para o hospital de Évora, com sinais de AVC. Tudo isto é ainda mais grave pelo fato da minha avó ter caído da cama na noite anterior e ter ficado algum tempo no chão sem forças para se levantar, uma vez que a colega de quarto não carregou na campainha, e as funcionárias estavam ausentes, apesar dos gritos da minha avó.
Acrescento ainda que a minha mãe fez questão de chamar a chefe dos funcionários, antes de ir para o hospital, para esta testemunhar o estado em que estava a minha avó.
Depois de estar um dia inteiro sem qualquer tipo de assistência, a minha avó deu entrada no hospital com o seguinte diagnóstico: "sépsis, com urocultura positiva, insuficiência renal aguda, insuficiência respiratória global, anemia macrocítica e uma periartrite do ombro esquerdo". O estado físico quando deu entrada nas urgências era este: "mulher de 85 anos, é trazida ao SU por estar "parada" e com desvio do olhar e da cabeça para a direita. Doente descrita como estando no seu estado de saúde habitual até à véspera do internamento, quando é referida como estando muito parada". 
A minha avó esteve internada no hospital até ao dia 19 de Setembro de 2011, tendo regressado à Santa Casa da Misericórdia, onde esteve até ao dia 30 de Setembro de 2011, dia da sua morte.
Ora bem, a falta de assistência da Santa Casa da Misericórdia das Alcáçovas foi evidente e revolta-me, sobretudo porque não é a primeira vez que acontece, os idosos levantam-se doentes, mas ficam sentados numa cadeira a agonizar até que alguém se lembre deles ou até que morram. São todos assim? Claro que não, há idosos com um tratamento um pouco mais especial, dependendo da sua condição social ou laços familiares.
A Santa Casa da Misericórdia das Alcáçovas transformou-se numa máquina de fazer dinheiro e numa construtora, onde interessa mais mostrar obras, do que mostrar assistência e bem estar dos utentes.
Frequento a santa casa com alguma frequência e posso dizer que o cheiro a urina, a fezes e a morte é constante e perturbador.
Num lar que tem utentes a mais (só no quarto da minha avó estavam 3 pessoas), tem funcionárias a menos, que não cobrem nem metade das necessidades.
Decidi denunciar esta situação porque estou revoltado e porque não quero que isto volte a acontecer com outros idosos e também porque ainda tenho outra avó no mesmo lar.
Não basta colocar animadoras de conveniência para "animar" os idosos, não bastar fazer sessões de fado para animar os "idosos", não bastar colocar placas brilhantes nas paredes, não basta fingir que está tudo bem, não basta enviar ramos de flores de condolências é preciso ir mais longe, é preciso dar um verdadeiro bem estar aos idosos e isso só se consegue com funcionárias preparadas para essa função e uma direcção consciente e atenta.
Claro que não me vou ficar pelo blog, vou enviar uma carta à Segurança Social, com um conteúdo semelhante a este.
Sei que muita gente se tem calado, sei que têm calado muita gente, mas como já não vivemos no Estado Novo, eu não me vou calar!

   
Roberto Vinagre

1 comentário:

  1. Quero esclarecer uma coisa que penso não ter ficado clara:
    1º - Quando me refiro aos cheiros e condições de higiene, estou a falar do edifício velho onde estão os idosos mais dependentes!
    2º - Não coloco em causa o prestigio e utilidade da Santa Casa da Misericórdia das Alcáçovas, mas que está mal organizada e mal gerida isso sem dúvida que está!
    E tenho a certeza que não faltam pessoas dispostas a confirmar o que estou a dizer!

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